Da interdição, um caminho novo
O Instituto Caminhos da Palavra nasce mirando o horizonte e com o pé na estrada
Salve, salve!
Aqui é Henrique Rodrigues, escritor e (a partir da agora) diretor do Instituto Caminhos da Palavra - ICP entre os já íntimos.
Há tempos me dizem para criar uma newsletter, mas por falta de tempo ou qualquer outra desculpa, nunca fiz. Precisei chegar assim, via PJ. Mas vamo que vamo. Já alerto que, apesar desse nome pomposo (Instituto, ui), vou manter a newsletter com o tom de informalidade. Já existe chatice demais nesse mundo e seriedade vetusta tem hora.
Logo mais, às 19h30, no site www.caminhosdapalavra.com.br será transmitido o papo de lançamento. Vou conversar com o escritor e gestor José Castilho Marques Neto e o escritor Otávio Júnior sobre a situação do livro, da leitura e da escrita no país. Apareçam!
O ICP nasce juntando algumas das coisas com que gosto de trabalhar e nas quais meio que me especializei nos últimos anos como gestor cultural. Nesta fase inicial, vamos atacar em três frentes:
Prêmio Caminhos de Literatura: para quem não conhece, o Prêmio foi criado ano passado, em parceria com a editora Dublinense. É voltado para a descoberta de novos autores, oferecendo como premiação a publicação pela editora e todo um acompanhamento profissional. A primeira edição teve como vencedora a paraense radicada em São Paulo Izabella Cristo, com o romance “Mãezinha”. Como a coisa deu certo, vamos ampliar: o edital da segunda edição será lançado agora por março e abril, incluindo Conto. E o livro da Izabella vai ser lançado na edição de 20 anos da Flipoços, que vai rolar entre fim de abril e início de março.
Livro a Caminho: desde 2006, quando comecei a publicar meus livros, faço visitas a escolas públicas. Fui aluno delas e tenho um carinho especial por esses espaços. O lance é que, apesar dos avanços, permanece forte o estigma de que aluno de escola pública tem como destino, no máximo, um subemprego. Daí a missão é trabalhar para que figuras que saem disso (tive subempregos por necessidade, mas não parei neles) não sejam exceção, e sim regra. Detesto o papo meritocrático do “olhaí, conseguiu porque se esforçou, é um sobrevivente etc”, pois isso reforça a regra. A galera precisa de “vez, voz e verso”, como ouvi de um animador cultural no Ciep, lá por 1986. Dei essa volta toda para explicar o projeto: vamos visitar escolas públicas, a princípio do Rio de Janeiro, e uma pessoa representante de uma grande editora vai conversar com a galera sobre como nascem os livros. Vão rolar apresentações artísticas, especialmente batalhas de rimas, e no fim todo mundo vai ganhar livro dessa editora - incluindo o pessoal da limpeza, merendeiras e tals. Estão conosco nessa parada Record, Rocco, Cia das Letras, Malê, Pallas e Grupo Zit, só papa fina. A primeira edição vai rolar agora em fevereiro, no Ciep onde estudei e de cuja sala de leitura agora sou patrono. Vai ser emocionante pacas.
Oficinas de criação literária: tive a grande oportunidade de ser aluno de oficinas literárias. Durante a graduação na Uerj tinha o programa Escritor Visitante. Nessa fui aluno de Sérgio Sant’Anna, Ferreira Gullar e Antônio Torres, que acabou se tornando um tipo de pai literário para mim. A preparação de escritores é algo que requer tempo, técnica e trabalho, conforme percebi nesses anos gerindo diversos formatos de residências, cursos e oficinas, presenciais e on-line. Convidei grandes profissionais da área para a primeira leva de oficinas. Professores têm desconto. Sempre terão. Confiram lá as que estão com vagas e bora meter a mão na massa.
Na coluna que mantenho no PublishNews, comento sobre aspectos da vida literária brasileira. Aproveito para compartilhar o início:
A jornada é longa, mas há caminhos
No texto anterior, comentei sobre os resultados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, que expôs em gráficos aquilo que os profissionais da área estão sentindo na pele nesses últimos anos: a situação está feia.
“Mas como, se Fulano vendeu centenas de milhares de exemplares?”, perguntariam alguns. “Poxa, mas os grandes eventos estão lotados...”, celebram outros. “Uai, mas nunca houve tanta gente publicando”, cofiam a barba uns tantos.
Tudo isso é verdade, pelo menos até certo ponto, e o problema é justamente o que vem depois do ponto. Esses três argumentos, ouvidos ad nauseam sempre que se debate sobre a situação da literatura no Brasil, não se sustentam muito diante de uma conjunção adversativa. Vejamos.
Sim, temos alguns best-sellers brasileiros, felizmente. Mas... são poucos quando olhamos o todo. Nas listas de mais vendidos em literatura só dá texto oriundo da gringa. Nas vendas de livros em geral, a literatura é uma categoria que ainda fica atrás de livros religiosos e de autoajuda. No geral, escritores brasileiros ainda têm a sensação publicar como se estivessem lhe fazendo um favor – ou algo como sistema de cotas.
Pois é, as bienais e flitecéteras estão lotadas. Contudo, essas mesmas pessoas que lotam pavilhões e praças meio que desaparecem rapidamente, para despertarem apenas na próxima edição. Ver 700 mil pessoas frequentando um evento pontualmente é lindo, mas ver essas mesmas multidões comprando livros regularmente é o milagre que o Brasil ainda espera.
Claro, as novas tecnologias favoreceram a produção impressa. As editoras pequenas fazem livros lindos e bem escritos, diferentes daqueles exemplares tronchos que víamos há umas décadas. Todavia, não tem muita gente comprando essa literatura. Na verdade, as tiragens estão cada vez menores, sendo comum títulos serem lançados com 30 exemplares, que não conseguem circular. Acho lamentável que tantos livros bons não consigam chegar a mais leitores.
Continue lendo aqui.
Por ora é isso. Devemos soltar essa newsletter pelo menos quinzenalmente, ou quando for necessário. E vamos incluir outras seções, como dicas de leituras.
E tentando fazer da interdição um caminho novo, como disse o Fernando Sabino.
Até e axé!